Garantir o retorno dos passeios na “Ferrovia do Trigo”. Esse é o propósito do governo do Estado ao investir R$ 6,3 milhões. A afirmação é do secretário adjunto de Logística e Transportes, Clóvis Magalhães.
Ao lado do vice-governador, Gabriel Souza, o secretário tem acompanhado as discussões com o governo federal, por meio do grupo de trabalho formado pelo Ministério dos Transportes, Secretaria Nacional das Ferrovias, Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), pelo Departamento Nacional de Transportes (Dnit) e concessionária Rumo Logística.
O projeto para garantir o investimento está em elaboração. Conforme Magalhães, a tendência é que os recursos sejam direcionados por meio do Fundo da Reconstrução (Funrigs). “A expectativa é garantir a retomada de um trecho do passeio do Trem dos Vales”, diz.
A tragédia de maio de 2024 danificou mais de 700 quilômetros de ferrovias do RS. Há mais de um ano, nenhuma locomotiva chegou ao RS pela interligação com Santa Catarina. Quanto ao trem turístico, o traçado original vai de Guaporé a Muçum, com 46 quilômetros de extensão.
Neste momento, a ideia é recuperar 18 quilômetros, diz o secretário-adjunto. “Teríamos o retorno dos passeios de Muçum a Vespasiano Corrêa, que inclui o Viaduto 13, um dos mais belos do país. É um traçado histórico e de riqueza cultural que precisa ser mantido.”
A iniciativa de recuperar o trecho foi uma das prioridades da agenda do vice-governador Gabriel Souza, que negociou com a Rumo, concessionária da Malha Sul, a cessão do trecho para a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF). “Isso já se confirmou. Temos a autorização e não há mais a necessidade de nenhum tipo de licenciamento para que a ABPF possa explorar as viagens nesse trecho”, afirma Magalhães.
Desde a suspensão da operação, o turismo do Vale do Taquari tem sofrido com prejuízos, diz o presidente da Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales), Rafael Fontana. “O trem movimentava hotéis, restaurantes e agências em toda a região”, destaca. Entre 2019 e 2023, mais de 112 mil turistas circularam pelo trajeto de 46 km entre Guaporé e Muçum. A venda de pacotes era feita por mais de 200 agências nos três estados do Sul.
O diagnóstico prévio diz que dos 46 quilômetros (Guaporé a Muçum), 23 km foram comprometidos. A reestruturação total do trecho está avaliada em R$ 300 milhões.
Relatório prévio
O grupo de trabalho do Ministério dos Transportes ainda não detalhou o diagnóstico com a situação das ferrovias gaúchas e as alternativas para recuperação. A expectativa era de finalizar o documento em julho.
“Pelo que sabemos está pronto, mas houve uma contrariedade dos estados e não tornaram as informações públicas”, afirma Magalhães. Em reunião com secretários do Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e RS, um texto prévio dos resultados do estudo foi apresentado.
A ideia central era dividir a malha sul. Na ferrovia gaúcha, seriam três trechos separados. “Não aceitamos o fatiamento. O que os quatro estados do Sul defendem é a integralidade do sistema. A lógica de segmentar só fragiliza ainda mais. Precisamos de uma nova ferrovia, não de mais sucateamento”, critica o secretário adjunto.
Ao todo, o RS tem mais de 3,6 mil quilômetros de ferrovias. Ao longo das últimas três décadas, houve um processo de degradação e apenas 921 km estavam ativos. “O declínio do transporte ferroviário não começou com a tragédia climática. Veio pela falta de investimentos das concessionárias, primeiro com a antiga ALL e, depois, com a Rumo. Nossa capacidade logística caiu ano após ano. Vagões pesados e obsoletos, trilhos deteriorados e ausência de investimentos reduziram o sistema a sua expressão mínima.”
Segundo Magalhães, a expectativa é que antes da divulgação oficial haja nova rodada de discussões. “Não aceitaremos que a devolução onerosa (das concessões) ocorra sem investimentos sustentáveis no Rio Grande do Sul. Reduzir ainda mais a quilometragem seria inaceitável.”
Custo logístico
O impacto da interrupção dos trens vai além da mobilidade. O porto de Rio Grande, realça o secretário adjunto, é a principal porta de entrada de fertilizantes, insumo vital para o agronegócio. Sem ferrovia, o transporte reverteu para rodovias, sobrecarregando estradas já saturadas, frisa Magalhães.
“São 12 mil viagens de caminhão só para abastecer uma planta do polo petroquímico. Estamos jogando tudo nas rodovias e nada nas ferrovias. Isso desequilibra o custo logístico e aumenta riscos de acidentes e desgaste da malha viária”, alerta.
Impactos econômicos
- 70% dos bilhetes vendidos por 214 agências
- 30% de venda direta ao público
- Passeio vendido por RS: 195 agências
- Vale do Taquari: 19 agências
- Demais regiões gaúchas: 176 agências
- Santa Catarina: 17 agências
- Paraná: 2 agências
Edições
2019
1ª edição
5 mil bilhetes vendidos
Oito passeios
2020
2ª edição
8 mil bilhetes vendidos
34 passeios
2021
3ª edição
31 mil bilhetes vendidos
54 passeios
2022
4ª edição
35,8 mil bilhetes vendidos
60 passeios
2023
5ª edição
32,3 mil passageiros
63 passeios
Total 112,1 mil passageiros