• MUÇUM

Empreendedores mantêm viva a força do município

Empresários locais transformam perdas em novos começos e fortalecem a energia que move a cidade


Por Eloisa Silva

Quinta-feira, 14 de agosto de 2025 ás 16:01

Atualizado quinta-feira, 21 de agosto de 2025 ás 16:46

O jovem empresário Jonas Marcolin mantém viva a tradição da família e a conexão com os produtores locais. (Fotos: Matheus Giovanella Laste)
O jovem empresário Jonas Marcolin mantém viva a tradição da família e a conexão com os produtores locais. (Fotos: Matheus Giovanella Laste)

Por quase duas décadas, a Agropecuária Marcolin foi ponto de referência para produtores rurais de Muçum. Criada em 2005, a empresa familiar é comandada hoje por Jonas Marcolin, 30, natural da cidade, que cresceu acompanhando de perto o trabalho da família no balcão e no atendimento ao campo.

“Tínhamos tanto a loja física como os secadores lá no interior, com isso conseguimos agregar os produtores com a venda de insumos, fertilizantes e defensivos, como é perto, era um acesso fácil também, o produtor estava sempre presente”, revela Marcolin.

A Das Borja Cervejaria, por sua vez, é mais recente, mas trouxe à terra natal de seu proprietário, Eduardo Rizzi Pin, 43, um toque artesanal e diferenciado. Fundada por ele, a marca se instalou no bairro Fátima e rapidamente conquistou espaço no cenário de eventos e na produção local de cerveja.

“A cervejaria nasceu na cidade de São Borja, que originou o nosso nome. Isso foi em 2015, em 2022 nos estabelecemos em Muçum. E a ideia sempre foi proporcionar às pessoas uma cerveja diferenciada. Levar ao público algo novo, que tenha uma essência local”, afirma o proprietário.

A rotina e os planos dos dois empreendimentos corria dentro do esperado — até setembro de 2023.

A água que levou quase tudo

A primeira enchente atingiu os dois negócios de formas distintas, mas igualmente devastadoras. Na agropecuária, a loja foi tomada pela água, mesmo com o estoque colocado no segundo piso, 2,5 metros acima do chão. “Foi uma surpresa, a água chegou onde nunca tinha chegado antes. Perdemos tudo: mercadorias, sistema, computadores. Não sobrou nada”, lembra Marcolin.

Na Das Borja, a destruição foi total. “Perdemos absolutamente tudo que possuíamos”, relata Pin. Até então, a cervejaria contava com diversos colaboradores diretos e indiretos, atuando também em eventos. Em poucos dias, todo o trabalho de mais de uma década foi interrompido. O bairro Fátima, onde estava sediada, se tornou o cenário que ilustrou o desastre em grande parte dos veículos de comunicação.

Em maio de 2024, veio o segundo golpe

A agropecuária, já em processo de reorganização, conseguiu retirar parte do estoque da loja, mas viu a estrutura de secagem no interior ser soterrada por um deslizamento de terra. “Acabou destruindo tudo, perda total. Essa foi uma baita perda estrutural”, relembra Marcolin.

Para o proprietário da Das Borja, o novo desastre apenas reforçou a urgência de recomeçar — e de permanecer. O espaço seguirá destruído, restava agora planejar os próximos passos dessa jornada.

Decisões que mantêm raízes

O proprietário da Das Borja, Eduardo Rizzi Pin, reconstrói sua marca e reforça a força da cidade com inovação e persistência

O proprietário da Das Borja, Eduardo Rizzi Pin, reconstrói sua marca e reforça a força da cidade com inovação e persistência Nenhum dos dois empresários cogitou, de fato, abandonar Muçum. A agropecuária foi beneficiada por um incentivo municipal: um terreno na área alta da cidade, próximo ao asfalto. A estratégia agora é pensar no futuro, com a possibilidade de transferir parte das operações para lá, protegendo o estoque de futuras cheias.

A Das Borja recebeu propostas para se instalar em outros municípios, mas Pin recusou todas. “Eu sou natural de Muçum, sempre acreditei no potencial daqui. Muita gente sofreu, todo mundo teve que retomar. Sempre quis ficar. O principal é todo mundo manter a fé no futuro e seguir acreditando que dias melhores virão”, reforça.

Retomada e novas perspectivas

Hoje, a agropecuária opera com cinco pessoas — quatro delas da família. As vendas já se normalizaram e o retorno da ponte melhorou o fluxo de clientes. “O desafio ainda é o capital de giro, mas se não vier mais desastre, podemos focar na construção do novo espaço.”, projeta Marcolin.

A Das Borja já tem endereço para a nova fase: Avenida Santa Lúcia, no sentido do Viaduto 13. Agora só Eduardo mantém o trabalho na cervejaria, mas a meta é ampliar gradualmente. O plano inclui retomar a produção, criar um espaço para atendimento ao público, locação de eventos e consolidar a marca. “Queremos que até o fim do ano a estrutura esteja pronta para receber o público”, conta.

Ambos concordam que as tragédias deixaram marcas profundas — e aprendizados
duradouros.

Para Marcolin, é necessário “acreditar, fazer o básico bem feito e aprender com as dificuldades — é esse aprendizado que vai nos levar a superar e crescer”. Para Eduardo, o segredo está na união: “Depende das pessoas. Todo mundo tem que acreditar e se abraçar. Quanto mais gente investindo, mais próximo da solução”.

Em uma cidade que ainda se reconstrói, a Agropecuária Marcolin e a Das Borja Cervejaria mostram que resistência e esperança podem ser tão fortes quanto as correntezas que um dia tentaram levá-las.

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