“Em meio a tanta dor, tanto sofrimento, vimos surgir o melhor das pessoas”. A frase do presidente da Federação das Entidades Empresariais do RS (Federasul), Rodrigo Sousa Costa, serviu como abertura para o tradicional evento “Tá na Mesa”.
O Palácio do Comércio, em Porto Alegre, foi tomado por histórias do trauma vivido pelo Vale do Taquari na inundação de setembro de 2023 e maio do ano passado. “Precisamos sempre lembrar. Pela memória das vítimas, mas também pelo que aprendemos. Temos de assumir o protagonismo, toda a sociedade, e ao lado do poder público, ajudar na busca de soluções, para que jamais tenhamos de passar por tudo de novo”, frisa Costa.
Neste diapasão, líderes empresariais da região foram convidados para palestrar na programação de ontem, quarta-feira, 10 de setembro.
Pensado como uma forma de homenagear os voluntários e as ações executadas durante os episódios climáticos extremos, as apresentações tiveram como ponto central os acontecimentos no Vale do Taquari.
Além do grupo de palestrantes, o encontro teve presença de representantes da região em diferentes esferas, entre prefeitos, líderes de associações e empresários. “Esse foi um momento marcante, pois a nossa região foi posta em evidência para o setor produtivo gaúcho. É importante que tenhamos esse momento de reflexão, de conversa e de entendimento do que passamos”, destaca o presidente da Câmara da Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT), Angelo Fontana.
A inundação de setembro de 2023 está entre as três maiores da história. Foram mais de 600 milímetros de chuva acumulada entre os dias 3, 4 e 5. As cidades mais atingidas foram Santa Tereza, Muçum, Encantado, Roca Sales, Arroio do Meio, Colinas, Lajeado, Estrela, Cruzeiro do Sul, Venâncio Aires, Bom Retiro do Sul e Taquari foram os mais prejudicados.
O epicentro foi na parte alta, nas cidades de Muçum, Encantado e Roca Sales. A tragédia foi um prelúdio do que estava por vir e o Vale do Taquari foi a primeira região gaúcha a sentir a nova realidade das mudanças climáticas.
Estimativa do Conselho de Desenvolvimento (Codevat) aponta para prejuízos acima de R$ 10 bilhões. O pico foi na madrugada de 4 de setembro, quando o Rio Taquari chegou a 29,92 metros em Estrela, quase 11 metros acima da cota de inundação. No Vale do Taquari, 54 pessoas morreram e ainda há pelo menos dois desaparecidos.
Emoção
A palestra começou com o relato do presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços de Estrela (Cacis), Claus Wallauer. “Estar vivo é o mais importante. Eu fiquei em cima de um telhado por horas em busca de socorro. Junto com outras pessoas, eu pensava: ‘esse será o fim de tudo’.”
Relembrava enquanto o telão reproduzia imagens do salvamento dele, de familiares e vizinhos. “Aquele episódio me mudou. Temos o costume de julgar os outros. Eu, sim, de uma condição melhor, fui para um abrigo com outras pessoas, em um bairro que imaginávamos ser perigoso. Quando chegamos, fomos recebidos com um café quente, uma torrada e roupas. Eu estava a dois dias molhado. Aquilo me mostrou que precisamos mudar nosso pensamento.”
Outro relato que emocionou o público foi do presidente da Associação Comercial de Roca Sales, Cleber Fernando dos Santos. “Naquele dia, quando o rio começou a subir, nossa preocupação era com o socorro. Não imaginávamos que subiria tanto. Estávamos buscando formas de retirar as pessoas. Minha dor foi não ter conseguido tirar todos. Homens, mulheres, idosos e crianças. Hoje eu digo, estávamos despreparados. E essa era uma função dos poderes públicos.”